sábado, 10 de janeiro de 2009

Tintin e Astérix.

Como é aqui assinalado, faz hoje 80 anos que Tintin partiu pela primeira vez para a União Soviética, o que veio a ser o início de uma extraordinária história de sucesso de uma personagem, que viajava por todo o mundo, passando pelos Estados Unidos, América Latina, Egipto, Índia, China, Congo, Peru, Tibete, e até a Lua. Tintin percorreu mesmo países imaginários como a Sildávia, já justamente qualificada como uma espécie de Bélgica no coração dos Balcãs. Na Bégica como em Portugal, Tintin foi mesmo objecto de uma saudosa revista que se qualificava como destinada aos jovens dos 7 aos 77 anos.
A meu ver, a explicação para o sucesso de Tintin resulta da crítica brutal, por vezes a atingir a caricatura, que aparece nos seus primeiros álbuns. Na Rússia assistimos à denúncia das brutalidades da revolução soviética. Nos Estados Unidos, vemos a criminalidade em Chicago, bem como a expulsão dos índios das suas reservas por causa do petróleo. Na China, assistimos ao vício do ópio e à denúncia das barbaridades praticadas pelo exército de ocupação japonês e por cidadãos ocidentais sobre chineses indefesos. Na América Latina vemos os múltiplos golpes de Estado praticados por generais de opereta, que precisamente por esse motivo acabam como artistas de music hall. A única excepção é Tintin au Congo, onde Hergé exprime posições colonialistas de um racismo brutal, mas que é explicada por uma tentativa de defesa da posição da Bélgica no Congo, a qual já tinha sido demolida por Joseph Conrad no Heart of Darkness.
Hergé não quis que Tintin lhe sobrevivesse, o que me parece ter sido a decisão correcta, face ao que está a acontecer a outra grande personagem da BD, que é Astérix. Astérix foi uma criação genial de Goscinny, a que se associou um grande desenhador que é Uderzo. Depois da morte de Goscinny, Uderzo decidiu assumir sózinho a continuação da personagem, mas a verdade é que não conseguiu produzir mais nenhum álbum com o humor que caracterizava os trabalhos de Goscinny. É verdade que, graças a um grande trabalho de marketing, aumentou brutalmente o sucesso comercial das personagens, mas a qualidade dos textos nunca mais foi a mesma, tendo os seus leitores ido de desilusão em desilusão. Surge agora a notícia de que a série vai continuar depois da morte de Uderzo, já tendo sido cedidos os direitos da mesma. É uma má notícia pois os novos álbuns só irão contribuir para uma ainda maior descaracterização de uma série de BD genial. Comparando as decisões dos seus autores, acho que Tintin acabou por ter melhor sorte que Astérix.  

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