terça-feira, 25 de agosto de 2009

O artigo de Mário Soares sobre Manuela Ferreira Leite

Não consigo compreender o que leva um político da craveira de Mário Soares a assinar um artigo de opinião como este. O PS pode estar absolutamente desesperado com a perspectiva de perder as próximas eleições, mas as suas figuras históricas deveriam ser preservadas das liças eleitorais. Pelos vistos, ninguém aprendeu a lição das últimas presidenciais, onde foi penoso ver Mário Soares envolvido num combate, que se sabia não ter quaisquer condições de ganhar.
O Mário Soares de que me recordo é o da Fonte Luminosa, do Primeiro-Ministro nos anos difíceis de implantação do regime democrático, do vencedor da dramática campanha presidencial contra Freitas do Amaral, e do Presidente da República numa década de ouro. Não vejo como é que alguém com esse currículo pode descer ao ponto de se tornar comentador de entrevistas televisivas dos actuais líderes partidários. Ao contrário do que julga, este tipo de epítetos, vindos dele, só favorecem Manuela Ferreira Leite.

2 comentários:

João Manuel Vicente disse...

Creio que essa imagem do Dr. Mário Soares é já indelével pois que integra já o "adquirido" democrático.

Isto apesar de haver sempre quem gostasse que o Dr. Soares fosse outrém que não o Dr. Soares, com a sua mundividência e os seus conhecidos pequenos defeitos e lacunas, alguns deles drectamente imputáveis apenas ao factor geracional.

Ora, são tais pequenos defeitos e lacunas que, porém, dão "tridimensionalidade" à figura, que se apresenta, por isso, real e tão livre e liberalmente sindicável por todos, por vezes com admiração e agradecimento mas, em igual número porventura, com um desrespeito gratuito.

É que o Dr. Soares é alguém que estabelece empatia e se sabe ou consegue entregar a todos - daí também se lhe ter chamado "rei"...

E é precisamente o oposto dos políticos portugueses que alguém chamou como os "magros", designadamente o Sidónio, Salazar, Eanes, Cavaco ou...Ferreira Leite, que nos governam à distância (menos aí o Sidónio Pais porventura) e segundo uma dramaturgia da reserva e um apelo aos diversos oráculos a quem incumbe a decifração urbi et orbi da palavra, escassa e hermética, do líder...

Ao menos o Dr. Mário Soares, além do que fez e do que não deixou que se fizesse para que eu, hoje, possa dizer isto em liberdade (v.g., na China, em Cuba ou na Coreia do Norte não o faria certamente), está aí, "em directo e ao vivo", na liça partidária, disponível para, aos 84 (?) anos, tudo ouvir...

Além de que não acredito que o Dr. Menezes Leitão creia que estas próximas eleições não sejam possivelmente das mais importantes que temos tido desde talvez as que se seguiram à queda do Bloco Central...

Francisco disse...

Vejo a intervenção de Mário Soares como tendo pouco a perder em termos de arregimentar adversários e muito a ganhar na mobilização dos eleitores PS.
As duas grandes dinâmicas desta eleição são a motivação por ofensa do eleitorado de direita e a fortíssima desmobilização do eleitorado da esquerda PS. Penso eu de que.
Mas acho até, que Mário Soares percebeu que estamos um forte ponto de viragem na política portuguesa. Um ponto de viragem que pode justificar por em causa o estatuto adquirido. Os métodos e estratégias que vejo preparados para entrar na arena desta campanha, se premiados, vão moldar a política portuguesa durante longos anos.