Esta polémica que se gerou na Ordem dos Advogados a propósito da Declaração de Bolonha demonstra o que sempre pensei: que é um erro gravíssimo a aplicação da Declaração de Bolonha aos cursos de Direito. Mas, ao contrário do que erradamente referiu o Bastonário, a maioria das Faculdades de Direito estava contra a aplicação da Declaração de Bolonha, tendo inclusivamente conseguido que o Governo PSD/CDS excluísse a sua aplicação ao curso de Direito. Apenas quando mudou o Governo, o actual Ministro do Ensino Superior impôs que também os cursos de Direito fossem reduzidos, tendo-se tentado criar nos alunos a ideia de que era irrelevante ter uma formação de cinco, quatro ou mesmo três anos, pois estariam todos nas mesmas condições para exercer uma profissão jurídica. Os resultados dessa política estão à vista.
Perante esta alteração, o CEJ fez o que devia, passando a exigir o mestrado como requisito de acesso à profissão de magistrado. A Ordem dos Advogados propôs o mesmo, ainda no mandato de Rogério Alves, mas não conseguiu que o Governo aceitasse essa proposta, alterando o estatuto da Ordem dos Advogados. Tal posição do Governo é estranhíssima, uma vez que até a Ordem dos Psicólogos passou a exigir mestrado como requisito de acesso à profissão. Não se percebe porque é que um advogado deve ter uma formação inferior a um juiz ou a um psicólogo.
Quanto ao exame de entrada na Ordem, agora aplicado sem qualquer base legal, este foi um dos pontos essenciais da campanha para as últimas eleições da Ordem, sendo uma proposta, não apenas de Marinho Pinto, mas também de Magalhães e Silva, tendo sido sempre apresentada como uma forma de limitar o aumento do número de advogados. Por questões de princípio, quer eu, quer Garcia Pereira, estivemos contra essa proposta, mas pude verificar que ela era extremamente popular entre os advogados. Não é por isso de prever que o exame venha a ser abandonado pela Ordem, apesar da sua manifesta ilegalidade, sendo elucidativo o silêncio em que se colocaram sobre este assunto os actuais candidatos a Bastonário. Vão por isso surgir centenas de processos contra a Ordem, o que a prejudicará seriamente enquanto instituição.
O que me espanta neste momento é a atitude do Governo nesta matéria, que depois de ter imposto a aplicação da Declaração de Bolonha aos cursos de Direito e que a nova licenciatura fosse requisito de acesso à Ordem, coloca-se agora em total silêncio sobre o exame instituído pela Ordem dos Advogados. O Ministro da Justiça nada tem a dizer sobre este assunto?
Quanto às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando "dúvidas" as certezas que toda a gente tem sobre a Declaração de Bolonha, e pedindo para "esperar para ver" perante a situação que agora surgiu, acho-as muito infelizes. Pelo contrário, são extremamente acertadas estas declarações de Santos Justo, Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.