quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O abandono da profissão de advogado.

Esta notícia confirma o que há muito penso sobre as inscrições anuais de advogados na Ordem, que uma perspectiva corporativista da profissão quer a todo o custo travar, com o argumento que já há advogados a mais.

A verdade, no entanto, é que a inscrição na Ordem em nada garante que alguém vai conseguir exercer durante toda a sua vida a profissão de advogado. Há inúmeras dificuldades no exercício da nossa profissão, que levam muitos dos inscritos a abandoná-la passado algum tempo. Entre estas algumas podem ser resolvidas, como os atrasos no pagamento das oficiosas, sendo um escândalo que este problema ainda não tenha sido definitivamente ultrapassado. Mas há outras que são permanentes, sendo manifesto que a profissão de advogado não é — nem nunca foi! — um mar de rosas.

Não faz por isso qualquer sentido avançar com medidas corporativas para travar o acesso dos candidatos à Ordem dos Advogados, o que constitui uma forma enviesada de impedir a renovação da profissão. A profissão de advogado não está reservada a quem chegou primeiro, sendo uma profissão liberal, que deve poder ser livremente exercida por quem está disposto a suportar as exigências e sacrifícios que a mesma envolve. Conforme se pode ver, há muitos que desistem a meio desse percurso.

7 comentários:

Anônimo disse...

Sou finalista da Licenciatura de Direito e sinto-me perfeitamente envergonhada e enganada, relativamente ao que se está a passar... É um ultraje... O que fazer agora, se os meus projectos e sonhos passam pela OA... Quanto tempo vou ter de esperar para saber se e quando vou poder ser Advogada... O mercado acaba por selecionar que fica e quem vai... Aquele Senhor é uma vergonha e mais vergonhoso é que ninguém faça nada de efectivo, contra esta injustiça...

Anônimo disse...

"A profissão de advogado não está reservada a quem chegou primeiro"


Sim... Claro... Queria ver muitos advogados da nossa praça a sujeitarem-se a 3 anos sem vencimento, regras deontológicas e regulamentos de estágio que mudam a cada 6 meses, a violência dos custos da Ordem, exames em cima de exames até falharem algum...
Eu deixei de dar para esse peditório, licenciei-me numa privada (crime capital punido com enforcamento profissional) e fiz os exames da primeira fase com as melhores notas desse ano. Infelizmente como não conheço nenhum advogado de jeito e como não trabalho sem ganhar, fiquei-me por aqui e não estou arrependido...

Anônimo disse...

Boa noite,

Sou advogado no Brasil, e chamou-me atenção a notícia!

Por aqui, os bacharéis devem se submeter a exame promovido pela OAB, diga-se de passagem, com atuais 90% de reprovação.

Todavia, seria injusto me queixar da carreira que tem proporcionado meu sustento, não só das necessidades básicas, bem como, de minhas aspiraçoes econômicas de consumo.

Aqui no estado de São Paulo, estamos com cerca de 300.000 inscritos, o que representa mais de 50% de todo contingente nacional.

Portanto, a vida nãe é fácil. O que me ocorre com tal notícia lusitana é entristecedor.

Desejo novos tempos aos colegas portugueses.

Forte abraço.

Luciano Gonçalves

ernestino disse...

Não sei se com rigor se poderá falar em protecionismo aos Advogados que chegaram primeiro à profissão. Contudo, é verdade indesmentivel que as apertadas condições de acesso à profissão de Advogado impostas pela O.A. são tendentes à criação de uma situação semelhante à ocorrida na Ordem dos Médicos Portugueses. Recorda-se que o acesso à admissão na faculdade de medicina passava pela obtenção de altisimas notas na fase final do curso dos liceus; a explicação dada ao Zé Povinho era a necessidade de melhores médicos. Pois bem, passados alguns anos veio a verificar-se que a medida gerou uma escassês de médicos no serviço público que, levou à admissão de médicos oriundos de outros Países, não se conhecendo sequer a sua média de admissão ou término no curso de medicina.

Poderá a O.A. Portugueses impor aos Advogados Europeus um exame de admissão ao exercício da actividade de Advogado em Portugal?

M. Albergaria disse...

Aos senhores actuais alunos de Direito: escusam de achar que a medíocre e enganadora "licenciatura" (sim, com aspas) de Bolonha é garante do que quer que seja; até pode ter umas quantas cadeiras parecidas ou iguais, mas não chega para ser equiparada à antiga, portanto não pensem que chega e que ao fim de quatro anos são "Drs.". Não dêem argumentos ao Dr. Marinho Pinto e façam cinco anos de estudos, que é como quem diz, com a parte lectiva do mestrado.
Se é para andarem a queimar fitas lá mais para Maio e fazerem planos de longo prazo, esqueçam. Ao contrário do que diz o Professor Pedro Pais de Vasconcelos (do qual não fui aluno), não é a ganhar 600 ou 700 euros que se consegue casar e comprar ou arrendar casa condignamente e em segurança, por exemplo. Já chega de créditos mal parados, de jovens a voltarem para casa dos pais com o rabo entre as pernas (se o Professor Menezes Leitão me permite a expressão) e de discursos de velhos do Restelo a chamar preguiçosos aos jovens.
Já agora, em vez de manifestações bacocas à porta da OA, manifestem-se à porta do ministério do Ensino Superior, exigindo um curso de Direito decente e válido para todas as profissões jurídicas.
Começar a construir casas pelo telhado não dá em nada e é isso que os alunos de Direito têm feito.



Respeitosamente e com saudações académicas,


M. Albergaria

Anônimo disse...

Não sublinho nada do que disse. Com todo o respeito, orgulhosa licenciada na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa.

Anônimo disse...

Todo o texto é muito lúcido e verdadeiro, mas a questão é que a OA continua a enveredar pelo corporativismo e pelo "numerus clausus" encapotado. Era bom que se passa-se das palavras à acção e como membro da lista vencedor o Prof. utiliza-se a sua influência para realizar a justiça que diz faltar. Espero sinceramente que assim seja. Cumprimentos