Depois da política de Sarkozy de expulsão indiscriminada de ciganos, temos agora estas declarações da Senhora Merkel a declarar a falência do multiculturalismo na Alemanha, e a propugnar uma nova política restritiva de imigração, onde até a liberdade religiosa dos imigrantes é questionada. Tudo isto a pretexto de uma "integração", esquecendo-se que a integração se faz precisamente respeitando a diversidade dos seus elementos componentes.
Temos agora o eixo franco-alemão a funcionar em pleno como motor da União Europeia. A sensação que se tem é que agora há dois Estados que mandam na Europa e que já esqueceram todos os valores que estiveram na base da construção europeia. E nem sequer a Comissão Europeia, sob a presidência do nosso conterrâneo Durão Barroso, demonstra alguma capacidade de resistência perante o Diktat franco-alemão.
Como admirador da cultura alemã, tenho pena de assistir a uma sua chanceler a pôr em causa com estas declarações todos os valores que estiveram na base da reconstrução da sociedade alemã no Pós-Guerra. É verdade que a Senhora Merkel vem da ex-RDA, e não terá por isso assistido a esse percurso. Eu recomendava-lhe, no entanto, que fosse ver o magnífico filme de Rainer Werner Fassbinder, Angst essen Seele auf, sobre as dificuldades e a incompreensão que os imigrantes suportaram na Alemanha, a eles se devendo grande parte do trabalho efectuado na reconstrução alemã. Talvez aí pensasse um pouco sobre a sua declaração de falência do multiculturalismo na Alemanha.
É manifesto que a crise dramática que atravessamos é o caldo de cultura ideal pra o surgimento de uma vaga de xenofobia, procurando transformar os imigrantes em bodes expiatórios da crise. E Portugal não está livre disso. Como bem disse João Gonçalves, "esta coisa da pen às vezes acaba em Le Pen".
4 comentários:
Pese embora o enorme respeito que me merecem o estimado Professor Meneses Leitão e as suas Doutas opiniões, desta vez não posso estar inteiramente de acordo com elas. Primeiro, porque as expulsões de ciganos pela França não foi feita de forma indiscriminada; segundo, porque das palavras da Senhora Merkel não se poderá retirar liminarmente a propugnação de uma nova política restritiva de imigração. O que, "no respeito por opinoião contrária" se poderá inferir da leitura das suas palavras é que o "actual" modelo de integração não tem resultado. Ora num País onde vive e trabalha uma Comunidade de quatro milhões de Muçulmanos certo é que, para uma perfeita integração a todos os niveis é condição indispensavel o dominio falado e escrito da lingua do País de acolhimento, e, isso é o que a Senhora Merkel exorta os imigrantes Muçulmanos a fazerem.
Na Alemanha como em qualquer País de acolhimento, a integração far-se-á pela aculturação pelos imigrantes e não o inverso.
Também com todo o respeito, não concordo nada com o seu comentário. As expulsões de ciganos de França foram feitas atendendo apenas à sua etnia, o que constitui um verdadeiro escândalo. E a senhora Merkel pôs agora em causa o modelo multicultural, que fez a riqueza de sociedades como os Estados Unidos e a Austrália (e parcialmente também a Alemanha).
É quase impossível um imigrante de primeira geração chegado à Alemanha aprender a ler e a escrever alemão correctamente. Isso ocorre naturalmente na geração seguinte de imigrantes. Impor aos imigrantes o perfeito domínio da língua alemã é por isso um factor discriminatório. No filme que cito, há uma cena em que um merceeiro se recusa a vender margarina a um imigrante, embora percebesse perfeitamente o que ele queria com o argumento de que ele não sabia falar alemão. O "erst lernen Sie Deutsch, dann können Sie wiederkommen" já há muito tempo que constitui uma manobra para discriminar imigrantes.
Nao sei se estas medidas da França e Alemanha têm a ver com a crise.
Se sim, é mau prenuncio começar a limpeza pelos imigrantes.
Até porque são eles que têm mais vontade de trabalhar do que os locais.
Concordo consigo.
Estamos a assistir a um eixo Franco.Alemão.
Mas já há muito tempo. Durão Barroso é apenas uma figurinha que de vez em quando faz uns discursos em Bruxelas.
O poder está todo nestes dois países. tanto o politico como economico.
Assim vai continuar. E piorar, porque a crise só pode ser salva por estes dois gigantes!
Comentário brilhante. A Europa terá sempre de respeitar o seu passado plural.
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