Depois de constantes subidas, o preço do petróleo atinge agora os 129 dólares por barril. Trata-se de uma escalada imparável que está a provocar importantíssimas alterações na economia mundial e no peso relativo das diversas potências.
As pessoas da minha geração ainda se lembram seguramente do choque do petróleo de 1973, que levou a que nos anos 70 os países da OPEP adquirissem lucros colossais e exercessem uma influência determinante na esfera internacional, no que ficou conhecido como "o império do petróleo". Em meados dos anos 80, o recurso a outras fontes de energia e a criação de veículos com mais baixo consumo levou a que o preço do petróleo caísse a pique, mesmo apesar da política de cartel que vinha sendo seguida pela OPEP, levando a que na altura se tivesse falado que nem o império do petróleo conseguia resistir à lei da oferta e da procura.
Estranhamente, no entanto, esta fraqueza do petróleo foi a sua força. Quando em 1986 o desastre de Chernobyl levou ao abrandamento da utilização da energia nuclear, as economias tinham à sua disposição o petróleo barato como fonte alternativa de energia, o que permitiu um grande desenvolvimento económico, mas agravou a dependência do ouro negro. Curiosamente, ao maior produtor mundial, a Arábia Saudita, o petróleo barato interessava porque estimulava os seus investimentos nos países ocidentais. Daí que se tenha gerado a prática de este país reagir sempre contra as subidas do preço do petróleo, colocando mais crude no mercado sempre que este subia de preço, o que fazia novamente o preço cair. Os governos ocidentais confiaram assim na manutenção do petróleo barato, como dado essencial da sua política económica.
O primeiro sinal de que a dependência ocidental do petróleo era excessiva foi a primeira Guerra do Golfo, em 1991, cujo objectivo essencial foi manter o petróleo barato, contra uma nova política de cartel, prometida por Saddam Hussein, caso viesse a controlar o petróleo do Kuwait. O êxito desta primeira guerra, relativamente ao objectivo de manutenção do petróleo barato, levou a que se avançasse, após o 11 de Setembro, precipitadamente para a segunda Guerra do Golfo, mas os efeitos da mesma foram desastrosos, instabilizando duradouramente o Iraque, com as consequentes repercussões no mercado petrolífero. Por outro lado, apesar dos constantes apelos que lhe têm feito, a Arábia Saudita nunca mais voltou a inundar o mercado de crude, o que tem enervado os mercados, até por que corre o boato que não o faz porque já não o pode fazer.
Efectivamente, o petróleo vai-se tornando um bem cada vez mais escasso, o que leva a que seja cada vez mais custosa a sua exploração. Como se demonstra no brilhante livro de JAMES HOWARD KUNSTLER, O fim do petróleo, já teremos mesmo dobrado o pico do petróleo existente no planeta, pelo que nos sobra menos de metade, que cada dia que passa iremos extraindo com mais custos económicos. É por isso prepararmo-nos para o fim do petróleo, sendo que não se vislumbram quais as alternativas energéticas que o possam substituir.
Com a subida dos preços, vão-se formando novos "impérios do petróleo", mesmo em países que só o conseguiam extrair a preços muito mais caros do que os países da OPEP. O protagonismo da Rússia na esfera internacional e a crescente influência que a Venezuela está a ter no continente americano são expressão desta nova realidade. Voltámos assim a ter o petróleo como poderosa arma política. De facto, parece que esta primeira década do séc. XXI nos vai fazer ter saudades das duas últimas décadas do séc. XX.
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