Não foi muito esclarecedor o debate entre os candidatos à liderança do PSD, mas foi bastante animado. O mérito cabe todo a Manuela Moura Guedes, que demonstrou uma enorme acutilância e contundência nas questões que ia colocando, sujeitando todos os candidatos a um autêntico fogo de artilharia. Na verdade, custa muito a compreender como é que uma televisão que tem uma jornalista deste calibre a deixa fora dos ecrãs durante tanto tempo.
Manuela Ferreira Leite teve uma prestação relativamente apagada, até porque falou menos tempo. Não concordo com a análise de Vasco Pulido Valente de que isso a beneficiou. O que a beneficiou foi a sondagem à opinião pública, exibida minutos antes do debate, que lhe dava uma vitória esmagadora, o que a colocou logo em posição de vantagem, antes mesmo de o debate se iniciar. Este não é, porém, um processo que me pareça correcto, já que a televisão deve assegurar nos debates a igualdade entre todos os candidatos, sendo aliás de salientar a grande capacidade de resistência que os outros demonstraram perante a manobra. Em qualquer caso, Manuela Ferreira Leite teve o tiro mais certeiro da noite, quando chamou a atenção para a inexistência de qualquer projecto de revisão do Código do Trabalho, o que já tínhamos referido aqui. Em tudo o mais, achei as suas intervenções apagadas, sendo manifesta a dificuldade em se libertar da imagem de austera Ministra das Finanças, que a tem perseguido.
Por contraste, Pedro Passos Coelho tem sido a grande revelação desta campanha. Com um discurso inovador, com uma forte componente liberal, tem seguramente marcado a agenda, o que levou a que tenha sido objecto de um fortíssimo ataque por parte de Manuela Moura Guedes que, citando Santana Lopes, chegou ao ponto de o acusar de falta de passado, o que é altamente injusto perante alguém com o currículo partidário de Passos Coelho. Falta de passado foi precisamente aquilo de que Mário Soares acusou Cavaco Silva, quando ele foi eleito líder do PSD, e viu-se os resultados dessa acusação. Na verdade, o futuro é muito mais importante que o passado.
Santana Lopes é para mim o pior de todos os candidatos, sendo dificílimo esquecer a desastrada experiência governativa em que se envolveu, e da qual parece que não retirou lição alguma, já que tem trazido para esta campanha uma série de recriminações contra outros militantes pelo fracasso do seu Governo, de que é o único que se pode queixar. É, no entanto, imperioso reconhecer que ele está como peixe na água nestas aparições televisivas, e que por isso o debate até nem lhe correu mal.
A surpresa do debate foi Patinha Antão. Sendo assumidamente um candidato "outsider" e que até aparecia completamente esmagado na sondagem inicial, soube dar a volta ao debate, surgindo com um discurso bastante sólido e consistente, que nem Manuela Moura Guedes conseguiu quebrar. Não tem hipóteses de vencer a corrida, mas o debate correu-lhe bem.
O actual agravamento da crise económica, sem soluções por parte do Governo, implica que, ao contrário do que todos supunham, Sócrates pode ser derrotado em 2009. O líder do PSD deve ser aquele que esteja em melhores condições de o conseguir. Isto, infelizmente, acho que ainda não ficou esclarecido hoje.
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