Leio aqui que há 200 ex-combatentes em Portugal reduzidos à condição de sem-abrigo. É inacreditável que o país possa deixar ao abandono pessoas que, na sua juventude, foram mandadas combater em territórios distantes, e muitas vezes de lá voltaram com graves traumas físicos e psicológicos, que os acompanharão pela vida toda.
Tive a sorte de ser novo de mais para ter combatido na guerra colonial. Recordo-me, no entanto, de assistir pela televisão ao embarque dos soldados e às filas e filas daqueles que, já colocados no teatro de guerra, repetiam sucessivamente a mesma frase: "Adeus e até ao meu regresso". A frase soava-nos terrível, pois tínhamos a perfeita consciência de que grande parte dos que a pronunciavam nunca regressaria.
Mais tarde, tive ocasião de visitar quase todas as antigas colónias portuguesas, onde ainda se podem ver as marcas da terrível guerra para onde enviávamos os nossos soldados. Nada me impressionou mais, no entanto, do que visitar Bissorá, em pleno interior da Guiné-Bissau, onde ainda se encontram as sepulturas de inúmeros soldados portugueses. Esses soldados foram sacrificados a uma opção política completamente irrealista, que preferia perder a Guiné numa guerra que era impossível ganhar, do que negociar a sua independência.
O primeiro dever do país seria, porém, cuidar dos que conseguiram regressar vivos, ainda que com as inevitáveis sequelas desta guerra. Custará muito ao sistema português de segurança social assegurar pensões condignas aos ex-combatentes, que evitem que estes sejam forçados a viver na rua? É o mínimo que o Estado deve a quem arriscou a sua vida, combatendo ao seu serviço.
2 comentários:
É inteiramente exacto: a frase soava-nos terrível, não só pelo que afirma (que estava realmente presente nas nossas mentes) mas também porque sentíamos estar destinados a pronuncia-la num futuro próximo... Hoje, não fora o rumo da história, cada um de nós podia ser um destes desafortunados a que a notícia se refere...
Boa tarde,
Por acaso, vim ter aqui ao blogue do Professor...Li a notícia e o comentário do Professor.
Entretanto ontem (13/01/09)li no jornal diário "Correio da Manhã" que as reformas dos trabalhadores da Segurança Social vão baixar, descendo mais á medida que os anos vão passando. Porquê? Porque é aplicado o factor de sustentabilidade, que expressa a relação entre a esperança de vida aos 65 anos com a calculada no ano anterior ao início da pensão.
Como diria Fernando Pessoa "tudo isto está certo e faz sentido, só o que não faz sentido é todo o sentido que isto tem.".
Esta situação é aplicada a todos os trabalhadores da Segurança Social,como entende o Poder Político porque penso que devem também entender que como democráticos que são, "aqui não há filhos e enteados, ou melhor, Portugueses de 1ª e de 2ª, isto é são todos iguais.".
Porém, levanto uma questão: não deveria ser aplicada aqui uma regra de excepção aos ex-combatentes da guerra colonial a quem foi detectado Stress Pós-Traumático de Guerra (SPTG) e portanto refiro-me a ex-combatantes que foram intervenientes, sistemáticamente, em zonas 100% de guerra, em combates com o inimigo.
Segundo me disseram, parece haver investigações internacionais de carácter científico sobre esta temática do SPTG, em que explicitam nas suas conclusões, haver como consequência desse estado de SPTG, uma diminuição de esperança de vida.
Como Professor Catedrático de Direito e como cidadão que mostra exercer os seus direitos de cidadania, penso que V. Ex.a, terá conhecimento desta situação.
A ser assim, quais as suas expectativas em termos de se poder avançar para um esclarecimento do Poder Político, que concerteza não estará a par destes possíveis resultados científicos, talvez porque nenhuma entidade com responsabilidades para o fazer, não o quizesse ou não o pudesse fazer.
Agradeço ao Professor a Sua atenção.
Anónimo
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