Assisti hoje à conferência que Muhammad Yunus realizou sobre o microcrédito como instrumento de combate à pobreza. O autor é um extraordinário comunicador, relatando-nos como criou o microcrédito, enquanto negócio social, por forma a evitar que os pobres das aldeias do Bangladesh viessem a ser explorados por agiotas. A partir dessa ideia inicial, o microcrédito obteve um sucesso extraordinário, o que permitiu inclusivamente a abertura de um banco, o Grameen Bank, vocacionado para a ajuda aos mais pobres (e entre estes principalmente as mulheres), que não têm acesso ao crédito comum.
Muhammad Yunus fez críticas extremamente contundentes ao sistema bancário tradicional, referindo que a exigência de garantias e a investigação do passado dos devedores coloca 2/3 da humanidade sem acesso ao crédito, destinando-os à pobreza. Ora, a pobreza constitui, só por si, uma violação de todos os direitos humanos, na medida em que nem as necessidades básicas do ser humano vêm a ser satisfeitas. Por isso, o seu banco disponibiliza pequenas quantias sem exigir quaisquer garantias ou investigar os devedores, deslocando voluntários às suas residências para emprestar o dinheiro. Apesar disso, no entanto, as percentagens de recuperação dos empréstimos superam os 98%.
Explicando essa percentagem de pagamento, o autor referiu que são os ricos e não os pobres quem normalmente procura fugir aos seus compromissos. Perante a crise financeira actual, não deixei de considerar esta asserção como inteiramente correcta. Mas, quando se verifica que um pobre devolve ao Grameen Bank o dinheiro que este lhe emprestou, enquanto que os gestores das grandes empresas, que todos os dias declaram falência, não assumem quaisquer responsabilidades, organizando antes férias e almoços de luxo, há que concluir que há alguma coisa de muito errada na actual ética dos negócios.