Depois de o preço do petróleo ter subido constantemente, atingindo valores acima dos 140 USD por barril, perdeu nos últimos tempos 40%, estando agora a rondar os 100 USD. Apesar de tal ser motivo de alívio, não justifica minimamente reacções como a de
Vital Moreira, que atribui a culpa pela subida unicamente aos especuladores, ou a de
Domingos Amaral, que chega mesmo a sustentar a proibição dos contratos especulativos sobre o petróleo (!).
A verdade é que, se temos petróleo no mercado, é porque os produtores estão disposto a vendê-lo, e portanto a celebrar contratos. Dado o livre jogo da oferta e da procura, é perfeitamente natural que o preço do petróleo varie em cada momento, ao sabor das oscilações do mercado. As razões para a presente queda resultam da diminuição do consumo, causada pelo elevado preço que o petróleo tinha atingido, bem como da recessão que está a atingir os países mais industrializados e que reduz a sua procura de petróleo.
Ora, sempre que uma venda de petróleo seja celebrada a prazo, os respectivos vendedor e comprador têm que assumir o risco de que o valor do produto no momento da entrega não corresponda ao preço que estipularam, de onde podem resultar ganhos e perdas. Daí que as partes possam celebrar contratos destinados a acautelar os riscos de variação desse preço (operações de cobertura de risco) ou a maximizar os ganhos provocados por essa variação (operações de especulação). Por vezes, a especulação pode ser realizada em operações de bolsa, captando os investimentos, como ocorre com os futuros de mercadorias, onde se especula com a subida ou descida do preço do activo subjacente.
Em consequência, defender que não haja especulação sobre o petróleo, é defender um absurdo. Naturalmente que sempre que alguém possa ganhar com a variação do preço de um produto, poderá tentar maximizar esses ganhos através da especulação. Isso acontece no petróleo, no imobiliário, e até nos alimentos. Mas a verdade é que pode igualmente perder tudo, porque quem especula também arrisca e muito. Sabendo-se que já havia futuros de petróleo que apontavam para um preço de 200 USD, imagine-se as perdas que presentemente esses investidores estão a suportar. Em contrapartida, quem, contra todas as expectativas, apostou na sua descida, saiu a ganhar.
No caso do petróleo, por muito alívio que certos comentadores estejam transitoriamente a sentir, a tendência natural é para a contínua elevação do seu preço. Efectivamente, o petróleo é um bem finito, e os estudos indicam que já se passou o pico, ou seja, já foi consumido mais de metade do existente. Assim, a menos que se descubram novas reservas, ou se inventem outras fontes de energia, o petróleo irá ficando sucessivamente mais caro, à medida que se torna mais escasso.
A longo prazo, a subida sustentada do preço do petróleo é um dado adquirido. A curto prazo, a mesma pode igualmente ocorrer e para valores impensáveis. Basta para isso que Israel concretize a sua ameaça de atacar o Irão...