quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O país em chamas.

O livro de António Lobo Antunes, "Que farei quando tudo arde?", deveria ser leitura recomendada neste momento ao Presidente Cavaco Silva, a ver se o inspirava a abandonar de vez o mutismo em que se colocou perante a situação de descalabro que o país atravessa.
Os constantes incêndios que todos os dias surgem nos noticiários, infelizmente já com vítimas mortais a lamentar, são um símbolo da falta de cuidado que existe na preservação das nossas florestas, assim como da incapacidade da justiça em reprimir os comportamentos criminosos.
Mas infelizmente os fogos que estão a atingir as nossas instituições parecem ser ainda mais graves que os incêndios que continuamente destroem as nossas florestas.
Efectivamente, na área da justiça processos que deveriam ter decorrido de forma absolutamente exemplar, devido ao alarme que as suspeitas relatadas suscitaram na opinião pública, deixam afinal as maiores dúvidas sobre a forma como foram conduzidos, levando os responsáveis a fazerem comunicados públicos sobre os mesmos. Não contente com isso, o Procurador-Geral da República acha que deve dar entrevistas incendiárias sobre os seus próprios poderes e a guerra que tem travado com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, ao mesmo tempo que anuncia mais um inquérito aos seus próprios serviços. O Sindicato, como seria de esperar, responde de forma contundente, proclamando que a hierarquia está moribunda. Com isto, será difícil que os cidadãos possam alguma vez confiar no sistema de Justiça, mas o Ministro da Justiça mantém a confiança no PGR e ainda propõe dar-lhe mais poderes. Provavelmente, quando isto acabar, do nosso sistema de justiça só restarão cinzas.
Também na área da economia, as coisas não parecem melhores. A inflação disparou, com a abrupta subida do IVA, e o risco da dívida pública portuguesa continua a aumentar. Por outro lado, com a multiplicação em progressão geométrica do número de insolvências e o constante aumento do desemprego prevê-se uma situação igualmente incendiária no plano social.
Tem-se justificado o silêncio do Presidente sobre este estado de coisas por razões calculistas, devido ao facto de estar à frente nas sondagens e não querer prejudicar a sua candidatura presidencial. É uma justificação inaceitável, uma vez que em caso algum o exercício do mandato presidencial deve ser condicionado pelos interesses de uma recandidatura. Cavaco Silva deveria perceber que ao deixar o país continuar a arder, sem nada fazer como Presidente, corre o risco de depois aparecer bastante chamuscado como candidato.

2 comentários:

ernestino disse...

Relembra-se os mais velhos e informa-se os mais novos, que num passado recente a mancha florestal portuguesa era imensamente maior e os fogos quase inexistentes. Era então obrigatória a limpeza das matas no inicio do verão, e, sancionados os proprietários que o não fizessem. Aos criminosos incendiários eram aplicadas penas que desencorajavam futuros criminosos a tal prática; enfim, havia respeito "embora imposto" por um bem que a todos beneficia.
Sabido que actualmente a limpesa da mata pelos proprietários é para estes economicamente incomportavel, pergunta-se: quanto gasta anualmente o Governo em meios de combate a incêndios? quais os prejuizos "a todos os níveis" resultantes dos incêndios? Não seria melhor aplicada essa verba, ou parte dela, num fundo destinado a ser utilizado pelos proprietários da mata , não para limpeza mas pela limpeza dela,orientada e atestada por técnicos silvicultores?
Não é já tempo de dizer basta aos interesses instalados com a finalidade de venda de material de combate a incêndios?

Mas, o Snr Professor tem mais uma vez razão; há fogos que deixam mais cinza e destruição que os incêndios florestais.

Bem haja pela clareza da análise e frontalidade dos comentários.

Francisco Castelo Branco disse...

Os verdadeiros fogos por apagar estão na justiça portuguesa.
Está sempre a arder.
Infelizmente os anos passam e a situação degrada-se.
Mas agora há um novo foco de tensão : a guerra entre os principais representantes dos agentes da justiça.
é o procurador com o presidente do sindicato dos magistrados MP e o Presidente da Associação Sindical de JUizes com o Bastonário da Ordem.
Com estas zangas e vindo tudo a publico, querem que as pessoas acreditem no que?