Os resultados das eleições europeias têm curiosamente muito mais efeitos internos do que a nível europeu. A nível europeu não passam de uma paródia de eleições, como se comprova pelo facto de há muito ser um dado adquirido a reeleição de Durão Barroso, independentemente de qualquer voto dos eleitores. Penso que a elevada taxa de abstenção na Europa é uma consequência deste distanciamento absurdo dos órgãos comunitários em relação aos seus eleitores. Pudessem os eleitores europeus decidir quem era o novo Presidente da Comissão, como acontece em qualquer democracia, e a participação eleitoral seria completamente diferente.
A nível interno, as eleições serviram, no entanto, para dar um estrondoso cartão vermelho ao Governo, reposicionando o PSD como uma clara alternativa de poder. Efectivamente, ao ter 26% dos votos a escassos meses das legislativas, o PS colocou sérios obstáculos à possibilidade de continuar no Governo, especialmente quando a hemorragia dos seus votos se dá para os partidos à sua esquerda, gerando-se uma bipolarização eleitoral, que só pode favorecer o PSD e o CDS. Efectivamente, em Outubro a alternativa que se colocará aos eleitores já não passará por um Governo de maioria absoluta do PS, mas antes por um Governo de maioria de esquerda (incluindo os partidos radicais) ou um Governo de maioria de centro-direita. É manifesto que os eleitores moderados tenderão a preferir a segunda solução.
As razões para este resultado resultam não apenas da desastrada escolha de Vital Moreira como cabeça de lista, como desde o início afirmei, mas são especialmente devidos a mérito pessoal de Paulo Rangel. Aparecendo a princípio completamente só, numa campanha em que a máquina partidária não pareceu bem oleada, Paulo Rangel foi sucessivamente marcando pontos nos debates e intervenções públicas, sem no entanto alguma vez exibir qualquer arrogância. As suas qualidades políticas ficaram aliás à vista no seu discurso de vitória eleitoral, seguramente o melhor discurso da noite.
Resta por fim falar das sondagens, que foram feitas ao longo da campanha, e que mais uma vez erraram estrondosamente. Há muito tempo que estas empresas de sondagens publicam resultados sem qualquer credibilidade, criando uma realidade virtual que só serve para confundir os eleitores. O que é grave é que os órgãos de comunicação social insistam nesta apresentação de resultados virtuais, mesmo em dia de eleições. Foi patético ver ontem duas televisões a apresentar sondagens para as legislativas a pôr o PS no limiar dos 40% no mesmo dia em que nas urnas não tinha passado dos 26%. Esta absurda fé nas sondagens tem que começar a ser questionada.
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